Mais de 85% das espécies de mamíferos têm períodos de sono polifásicos, o que significa que dormem durante períodos de curta duração ao longo do dia. Por outro lado, o humano dorme num único período, o que significa que os seus dias são divididos em dois períodos, um para o sono e outro para a vigília. Não está claro que esse seja o padrão natural de sono dos humanos. Crianças e idosos dormem a sesta, mas esta é também uma prática muito comum em muitas culturas.
A nossa sociedade está cada vez mais privada do sono. E pode ser o nosso estilo de vida ocupado que impede a sesta, embora esta não compense necessariamente a falta de sono noturno.
Neste artigo vamos desenvolver alguns dos benefícios da sesta para a nossa saúde:
1. Aumento do estado de alerta
Quando as pálpebras estão demasiado pesadas para se manterem abertas, isso quer dizer que já não estamos na plenitude das suas capacidades. Arranjar tempo para uma soneca pode fazer com que volte ao seu melhor. Um estudo da NASA descobriu que uma sesta de 40 minutos aumenta o estado de alerta em 100% (1).
Outros estudos descobriram que uma sesta de 20 minutos é mais eficaz do que 200 mg de cafeína ou um período de exercício (2). Por outro lado, estudos mostraram que uma sesta aumenta o nível de alerta e energia de tal forma que a segunda parte do dia será equivalente à primeira (3).
2. Melhoria na aprendizagem e na capacidade de memorizar
As sestas melhoram a memória de trabalho. Este tipo de memória está envolvido no trabalho em tarefas complexas, onde tem de prestar atenção a algo, enquanto mantém muitas outras coisas na sua memória.
Fazer uma sesta também melhora a retenção de acontecimentos; durante o sono, as memórias recentes são transferidas para o neocórtex, onde as memórias de longo prazo são solidificadas e armazenadas (4).
3. Prevenção do esgotamento e reversão da sobrecarga de informação
Embora muitas vezes recusemos fazer uma sesta por sentirmos que temos muito que fazer, estudos mostram que trabalhar horas extras sem descansar reduz drasticamente a produtividade (5). É melhor fazer uma sesta de 30 minutos e voltar revigorado ao trabalho.
Isto foi demonstrado num estudo no qual os sujeitos realizaram uma tarefa visual ao longo de quatro dias. A cada sessão sucessiva, o desempenho dos participantes na tarefa deteriorou-se. Mas quando os sujeitos foram autorizados a tirar uma soneca de 30 minutos após a segunda sessão, o declínio no desempenho foi interrompido. E depois de uma soneca de uma hora, o desempenho melhorou na terceira e quarta sessões.
4. Aumento da sensibilidade e criatividade
De acordo com a especialista em ciência do sono Sara C. Mednick, fazer uma sesta pode melhorar a perceção sensorial de forma tão eficaz quanto uma noite de sono (6). Isso significa que a comida pode saber melhor ou o pôr do sol parecer mais bonito depois de uma soneca.
A criatividade também pode melhorar e uma sesta pode libertar ideias na sua mente e fazer com que pense de forma diferente sobre determinadas coisas.
5. Melhoria geral da saúde
A privação do sono leva a um excesso de cortisol no organismo (7). O cortisol, conhecido como a hormona do stress, ajuda a enfrentar dificuldades. Mas o excesso de cortisol aumenta a intolerância à glicose e a gordura abdominal, enfraquece os sistemas muscular e imunológico, dificulta a memória e a aprendizagem, e diminui os níveis da hormona de crescimento e testosterona. Estes efeitos podem ainda levar a diabetes e doenças cardíacas.
Durante o sono, dá-se a libertação da hormona do crescimento – o antídoto do cortisol -, que estimula o sistema imunológico, estimula a função sexual, reduz o stress e a ansiedade, e promove a reparação muscular e a perda de peso. Fazer uma sesta dá ao cérebro a oportunidade de descansar e ao corpo a oportunidade de reparar.
Referências:
(1) “Napping.” National Sleep Foundation, sleepfoundation.org/sleep-topics/napping/page/0/1.
(2) Mednick, Sara C., et al. “Comparing the Benefits of Caffeine, Naps and Placebo on Verbal, Motor and Perceptual Memory.” Behavioural Brain Research, vol. 193, no. 1, 2008, pp. 79–86., doi:10.1016/j.bbr.2008.04.028.
(3) Dvorsky, George. “The Science behind Power Naps, and Why They’re so Damn Good for You.” io9, io9.Gizmodo.com, 16 Dec. 2015, io9.gizmodo.com/the-science-behind-power-naps-and-why-theyre-so-damne-1401366016.
(4) Kentish, Benjamin. “The Best Thing You Can Do with Your Afternoon Is Take a Nap.” The Independent, Independent Digital News and Media, 6 Jan. 2017, www.independent.co.uk/news/science/afternoon-nap-short-sleep-help-job-worker-performance-thinking-memory-skills-employee-pennsylvania-a7513301.html.
(5) Davis, Jeanie Lerche. “America, It’s Time for Your Nap.” WebMD, WebMD, www.webmd.com/sleep-disorders/features/america-its-time-for-your-nap.
(6) Mednick SC, Drummond SP, Arman AC, Boynton GM. Perceptual deterioration is reflected in the neural response: fMRI study of nappers and non-nappers. Perception. 2008;37(7):1086-97
(7) “Sleep Loss Results in an Elevation of Cortisol Levels the Next Evening.” Sleep, Jan. 1997, doi:10.1093/sleep/20.10.865.
Licenciada em Medicina do Desporto.